'A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.'
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Filme: Um Craque Chamado Heleno
Por Sérgio Settani Giglio
em 09-05-2010, às 20h38.
Um craque chamado Heleno O ator Rodrigo Santoro recria com precisão a trajetória do mais torto e trágico dos anjos do futebol brasileiro em filme que José Henrique Fonseca dirige no Rio de Janeiro
Ubiratan Brasil / RIO - O Estado de S.Paulo
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100509/not_imp549061,0.php
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100509/not_imp549076,0.php
A metamorfose começou - primeiro, o corte de cabelo, cuidadosamente modelado e esculpido de gomalina, à moda de Rodolfo Valentino; em seguida, os tornozelos que, graças à dedicação nas cenas de jogo, são tratados com gelo, como fazem os atletas profissionais. Mas é no olhar que a transformação mais impressiona: incisivo, confiante, debochado. É a partir dos olhos que o ator Rodrigo Santoro assume a persona de Heleno de Freitas (1920- 1959), o mais torto dos anjos do futebol brasileiro, ídolo do Botafogo dos anos 40 que morreu sifilítico, incompreendido, louco. Um fascinante personagem cuja trajetória inspira o novo filme que José Henrique Fonseca roda há dez dias no Rio de Janeiro. "Heleno carregava a própria tragédia grega no nome", conta o cineasta, enquanto observa o trabalho de concentração de Santoro.
Na manhã de sexta-feira, em um dos vestiários do estádio do Vasco da Gama, em São Januário, o Estado acompanha com exclusividade a preparação de uma cena. Vestido com a camisa de época do Botafogo, chuteira de couro e travas de cortiça, o ator acerta o cabelo, acende o cigarro, posiciona-se como um deus grego, apoiado em um banquinho. "Rodrigo fica tão concentrado que, no set, o chamamos de Heleno, sem gozação", comenta Fonseca. "E ele atende."
Orçado em R$ 8 milhões, o filme (que ainda carrega o título provisório de Heleno) vai acompanhar a trajetória de um craque singular: advogado formado, bonito, famoso, goleador mas bipolar - irascível em campo, disposto a brigar com adversários e colegas do próprio time por conta de uma jogada malfeita, Heleno era um gentleman fora do gramado, incapaz de insultar alguém. "É um personagem muito complexo, que ainda estou descobrindo", conta Santoro.
Heleno (que pode mudar para um título sem referência ao nome do jogador) não será um filme sobre futebol, apesar de seu fio condutor ser a trajetória do atacante obcecado pela vitória, que passou por Botafogo, Vasco, Santos, América carioca, além do Boca Juniors da Argentina (passagem na qual se criou o boato de que teve um affair com Evita Perón) e Atlético Junior de Barranquilla da Colômbia, onde cativou torcedores ilustres como o escritor Gabriel García Márquez. "Quando o encontrei, em um festival de cinema em Cuba, Gabo disse que, com Heleno, não havia meio termo: ou ele encantava a torcida com um show de bola ou era expulso, depois de brigar com alguém."
Mito. Assim, o plano de Fonseca, que divide o roteiro com Felipe Bragança, é recriar justamente esse mito do qual sobraram documentos esparsos - um punhado de fotos e depoimentos conflitantes. Nada de imagens em movimento, exceto alguns segundos de uma partida do Boca, recém-descobertos na Cinemateca Argentina. Criou-se, portanto, ao longo dos anos um perfil desencontrado do jogador. "Havia quem o endeusava, mas também existiam aqueles que o pintavam como demônio", lembra o cineasta, que há cinco anos trabalha para viabilizar o projeto. "No final, tanto tempo de espera serviu, ao menos, para criar uma história menos documental e mais centrada na figura humana."
Graças ao apoio do empresário Eike Batista, que acreditou no filme e despertou o interesse de outros financiadores, o público vai conhecer a história do homem que buscava a perfeição mas, vitimado pela sífilis que destruiu seu cérebro, terminou como um farrapo humano. "Há cenas muito fortes, como a única partida que Heleno disputou no Maracanã", observa Santoro, que leu toda a documentação existente, além de ter conversado com pessoas que, de alguma forma, tiveram um certo contato com o jogador. "Em 1951, já doente, ele vestiu a camisa do América que enfrentaria o São Cristóvão. Heleno ficou apenas 25 minutos em campo - há quem diga que estático, só acompanhando a bola. O seu desejo, porém, foi realizado: pisar no gramado do Maracanã."
As filmagens seguem por mais quatro semanas. Depois, serão interrompidas durante um mês, período em que Santoro vai engordar oito quilos para viver o momento crucial de Heleno de Freitas: a derrocada em um sanatório.
Sem avisar a produção, Rodrigo Santoro decidiu passar um fim de semana em São João Nepomuceno e Barbacena, cidades mineiras onde Heleno de Freitas nasceu e morreu, respectivamente. "Fui acompanhado do (preparador de elenco) Sérgio Pena e conversamos com as pessoas sobre as reminiscências deixadas pelo jogador." Em seu trabalho perfeccionista, ele também ouviu Luiz Eduardo, único filho do atacante. E ainda assistiu ao filme Gilda, clássico noir de Charles Vidor de 1947, em que Rita Hayworth interpreta uma mulher cujo temperamento de diva inspirou uma bela provocação dos torcedores rivais, que gritavam "Gilda" quando o craque estava em campo.
"Ele era um homem surpreendente, um marco da sociedade carioca dos anos 40, pois foi o primeiro jogador a atrair donzelas para os estádios por conta de seu charme", explica Santoro. "Também foi pioneiro em importar um Cadillac, alimentando sua paixão por carros."
O ator se prepara com afinco para as cenas que considera as mais marcantes do filme - justamente a fase em que Heleno, já com a mente devastada pela sífilis, abandona o futebol e vive o resto de sua vida em um sanatório. "Como ele se negou a fazer tratamento adequado, temendo comprometer a virilidade, a doença avançou a ponto de comprometer seu senso crítico, sintoma que era tratado com choques elétricos."
A cena inevitavelmente faz lembrar do primeiro grande momento de Santoro no cinema, Bicho de Sete Cabeças (2000), filme de Laís Bodanzky em que interpreta um rapaz internado pela família em um hospício. "Há alguma semelhança, mas acredito que agora será mais forte."
A doença que Heleno potencializava em sua raiva é a chave do longa de José Henrique Fonseca, que deve estrear em maio de 2011. O diretor gosta de criar um clima propício na filmagem - ao som de músicas incentivadoras (de O Anel do Nibelungo, de Richard Wagner, a clássicos do jazz americano), ele pretende apresentar um Rio desaparecido. "Nos anos 40, enquanto a Europa tentava se recuperar da guerra, a cidade vivia momento glamouroso, graças à beleza natural e ao lazer propiciado por clubes e cassinos", observa o cineasta, que fez uma pesquisa cirúrgica em busca de locações que ainda conservam reminiscências da época.
Em alguns casos, teve sucesso, como o estádio do Vasco, cujos vestiários, tribunas e arquibancadas mantêm a base do desenho original. Ou ainda o Copacabana Palace, onde Heleno viveu durante seus momentos de glória, época em que, reza a lenda, testemunhou Orson Welles atirar uma poltrona na piscina do hotel. "Nossos problemas são mais geográficos", conta Eduardo Pop, da Goritzia Filmes, que divide a produção com a RT Features, de Rodrigo Teixeira. "Veja a cena de Ilma, mulher do jogador, no balcão de um apartamento do hotel: ao fundo, aparece a orla de Copacabana, hoje totalmente distinta do que era há 70 anos. Assim, uma empresa americana foi contratada para, durante quatro meses, trabalhar com computação gráfica a fim de aprimorar apenas três cenas e revigorar a vista original."
Cores. "Nenhum detalhe histórico passará despercebido", garante Rodrigo Teixeira. "Como não se trata de um filme só sobre futebol, todas as histórias fora do gramado têm a mesma importância." Para se conseguir o melhor bordado dessa recriação, foi convidado o especialista da fotografia no cinema Walter Carvalho. Com mais de 50 longas no currículo, ele elaborou um plano sobre as cores do filme. "Para as cenas no sanatório, que representam o momento presente da história, penso em cores desbotadas. Já para os planos de futebol, talvez faça experiência com o preto e branco, mas nada está definido." Em todo caso, todo o longa vem sendo rodado em cores.
A preparação também é acompanhada por Santoro que, apaixonado pelo projeto, decidiu tornar-se um dos produtores. Inédita em sua carreira, a experiência revelou-se cansativa. "Incrível como surgem problemas. Isso até retardou minha preparação do personagem."
Nada, porém, parece barrar seu perfeccionismo. Apesar de ter alguma habilidade com a bola, o ator pediu auxílio do ex-atacante Cláudio Adão, que lhe ensina o refinado futebol de Heleno de Freitas. "É uma homenagem que presto ao grande mito." Respeito por alguém que, mesmo depois de morto, não escapou do infortúnio - quando o corpo do jogador era levado até São João Nepomuceno, chovia torrencialmente e o carro atolou, adiando o enterro em um dia.
FONTE:http://cev.org.br/comunidade/futebol/debate/filme-um-craque-chamado-heleno
Alinne Moraes e Rodrigo Santoro em romântico envolvimento nas cenas do filme Heleno
A atriz Alinne Moraes e o ator Rodrigo Santoro flagrados em romântico envolvimento em cenas do filme Heleno, atualmente em produção no Rio de Janeiro e que conta a história do jogador de futebol Heleno de Freitas.
GALERIA DE FOTOS DA FILMAGEM E HELENO DE FREITAS
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